22 de fevereiro de 2016

UM CAMINHO INEVITÁVEL


Por: Afonso Peche Filho
Pesquisador cientifico do Instituto Agronômico de Campinas. 

O desenvolvimento urbano e rural em um capitalismo selvagem usa artifícios escusos para tentar burlar as leis naturais da ocupação e uso do solo. Na atualidade um artifício do individualismo setorial realça o valor econômico da posse das terra comprometendo as possibilidades de um desenvolvimento consistente e coloca bairros e propriedades agrícolas a berlinda da economia municipal. Na natureza ocorre uma harmoniosa relação entre o solo e o clima do local. Qualquer tipo de solo é um produto de leis que regem a precipitação, a infiltração, a permeabilidade,o escorrimento, e o armazenamento de água, entre outros fatores.

Quando ocorre a ocupação e uso do solo sem critérios e planejamento, não dá para enganar a natureza e o mercado durante muito tempo. Com o passar dos anos os problemas crônicos como erosão, enchentes, escassez hídrica, falta de energia, saneamento e outros vão ocorrer em uma freqüência cada vez maior, levando o território a perdas irreparáveis no valor do imóvel e da localidade. Quanto mais problemas ambientais forem aparecendo ou ficando tangíveis, mais dificuldades vão ser criadas e as mudanças para pior vão sendo impostas. A habitabilidade cai e leva consigo todo o valor humano do local. 

Começar imediatamente a migrar do atual modelo de gestão da ocupação e uso do solo para um modelo ambientalmente mais eficiente é um caminho inevitável. A única chance para algumas cidades e propriedades agrícolas que sinalizam problemas econômicos e sociais. A transição para uma nova economia baseada em uma escala humana e no baixo carbono já está em curso e não vai parar. O que ainda não está muito claro é o ritmo que será imposto para essa transição. O nosso grande desafio é acelerar mudanças para um modelo mais compatível de ocupação e uso do território. Um plano de desenvolvimento territorial consistente, com regras consistentes; "novas regras" com diretrizes para incrementar a economia local com foco no bem estar e nas garantias de saúde das áreas produtivas. O desafio é preparar cidades e propriedades para se beneficiarem das "novas regras" e revitalizarem a condição ambiental local. As "novas regras" são menos reducionistas, abrangem desde padrões de eficiência energética até mecanismos de precificação dos "serviços ambientais" como a produção de água, sequestro de carbono, otimização da riqueza e beleza cênica, proteção da biodiversidade, aumento na resiliencia e na supressividade territorial. Regras claras e consistentes atraem investidores e melhora a qualidade de vida.

Não há mais dúvidas de que os municípios precisam se acostumar a discutir democraticamente seus planos diretores. Discutir caminhos para uma efetiva participação na construção de territórios equitativos, justos e ambientalmente saudáveis. Uma "nova economia urbana", uma "nova agricultura", que privilegiam o desenvolvimento territorial em escala humana, a economia local e as atividades de baixo uso de carbono. Não há duvidas de que este caminho é inevitável.

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