Fabiana Marchezi
correiopontocom@rac.com.br
Foto: Rodrigo Zanotto/ AAN
O mascote do projeto, Abayomi ('feliz encontro' em guarani), órfão de onça-parda que morreu após ser resgatada na área rural de Sousas
O crescimento populacional desordenado vem diminuindo as áreas florestais e, consequentemente, aumentando a ocorrência de acidentes e incidentes com animais silvestres na Região Metropolitana de Campinas (RMC).
São cada vez mais comuns notícias sobre onças, capivaras e outras espécies encontradas em situações de risco ou já machucadas na região, uma das mais industrializadas e urbanizadas do Interior de São Paulo.
Por isso, desde 2009, o Instituto Chico Mendes, autarquia do Ministério do Meio Ambiente, vem desenvolvendo o projeto Corredor das Onças na região. O objetivo do estudo, que está entrando em sua segunda fase, é reconectar os fragmentos de floresta, conservar a biodiversidade e melhorar a qualidade e a quantidade de água na região de Campinas, contando principalmente com a ajuda de proprietários rurais e empresas comprometidas com o plantio compensatório.
De acordo com a analista ambiental e coordenadora do projeto, Márcia Gonçalves Rodrigues, na estrutura de incentivos que deverá ser criada para que a recuperação e a adequação ambiental das propriedades rurais ocorram, o projeto prevê a implantação do pagamento por serviços ambientais (PSA) a produtores rurais que se comprometam a implantar uma agricultura mais sustentável (agroecologia), a recuperar e proteger a fauna e as florestas nas nascentes e margens dos rios, beneficiando tanto a sua propriedade rural quanto as cidades e indústrias da região com o aumento da infiltração/produção de água e a melhoria da qualidade das águas captadas para o abastecimento urbano.
A produção de água de qualidade, por sua vez, resultará do próprio aumento da área florestada, bem como, do manejo adequado do solo com um uso agrícola mais sustentável. Segundo Márcia, a ideia é que, em no máximo dez anos, boa parte das florestas estejam reconectadas.
A volta
Mesmo ainda engatinhando, o projeto já vem dando frutos. Na segunda-feira (15), a reportagem do Correio pôde comprovar isso no Zoológico de Paulínia, que abriga três filhotes de onças-pardas que foram resgatados recentemente de situações de risco. A ideia agora é treiná-los para que eles possam voltar a viver na natureza.
O mascote do projeto, Abayomi — palavra guarani que significa “feliz encontro” — foi encontrado cerca de 20 dias depois que sua mãe morreu de mal súbito após se sentir coagida pelo homem enquanto atacava um galinheiro no distrito de Sousas.
Os outros dois filhotes — Raquel e Pitã, que significa “pé duro”, também em guarani — foram resgatados depois que a mãe deles morreu atingida por uma máquina agrícola dentro de um canavial. Pitã também foi atingido e teve várias fraturas na pata, mas já está totalmente recuperado.
“Os três devem estar preparados para voltar a viver na floresta no primeiro semestre de 2014”, disse a coordenadora. Outras quatro onças foram resgatadas e já foram devolvidas à natureza.
“Eles estão muito bem, aprendendo a sobreviver sozinhos. Aqui, eles são tratados, treinados e ficam isolados, com o mínimo possível de contato com o homem para que não caiam em armadilhas quando voltarem para a natureza”, disse o médico-veterinário do zoo de Paulínia, Marcelo de Queiroz Telles.
Multifocal
Cerca de 80 pessoas — entre autoridades da região, representantes de empresa, proprietários rurais e formadores de opinião — estiveram ontem no evento 'A Propriedade Rural e o Corredor das Onças: Como Podemos Ajudar', realizado na Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas.
Entre os presentes, estavam políticos de Campinas, Cosmópolis, Artur Nogueira, Holambra e Limeira, além de organizações não governamentais, associações de proprietários rurais e representantes de empresas parceiras.
O vice-prefeito de Campinas, Henrique Magalhães Teixeira (PSDB), presente no evento, afirmou que o projeto tem todo o apoio do governo municipal. “Estamos de portas abertas para o que for preciso”, disse.
Para o secretário municipal do Verde e do Desenvolvimento Sustentável, Rogério Menezes, o maior desafio é a mobilização da população em torno da conservação das matas ciliares e da recuperação dos locais já degradados.
“Sabemos que é tudo a longo prazo, até porque nossa proposta (de reabilitação para devolver o animal à natureza) é inédita. A ideia do evento foi abrir um diálogo com esse pessoal para que algo comece a ser feito logo”, ressaltou Márcia Gonçalves Rodrigues, coordenadora do projeto.
Produtores serão pagos para conservar
O projeto Corredor das Onças é uma iniciativa do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em parceria com o Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que responde pela organização de um modelo de pagamento por serviços ambientais (PSA) pela conservação da água e da biodiversidade na região de Campinas.
Nesta primeira etapa, o Corredor das Onças teve apoio financeiro do projeto Proteção da Mata Atlântica 2, do governo brasileiro, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, dentro de um programa de cooperação técnica e financeira entre Brasil e Alemanha, no âmbito da Iniciativa Internacional de Proteção ao Clima (IKI). Prevê apoio técnico através da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, e apoio financeiro através do KfW Entwicklungsbank (o Banco Alemão de Desenvolvimento), por intermédio do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).
O projeto está sediado em Campinas, porém, a fauna, assim como as nascentes dos principais cursos d’água da região, não conhecem fronteiras políticas.
Assim, o caminho das onças tem levado a iniciativa muito além dos limites da RMC, que possui área total de 3.647 quilômetros quadrados.
No entanto, os fragmentos florestais da Região Metropolitana de Campinas representam pouco menos que 10% de sua área total: cerca de 34 mil hectares distribuídos entre os seus 19 municípios.
A onça-parda (Puma concolor), também conhecida como suçuarana, é usada como espécie bandeira do corredor ecológico a ser implantado, pois sua presença, comprovada nos primeiros trabalhos de campo, indica um processo de adaptação a uma situação ambiental pouco favorável, marcada pela existência de um mosaico de pequenos fragmentos florestais isolados.
A importância da onça-parda está na sua capacidade de controlar espécies que estão abaixo dela na cadeia alimentar. Com isso, ela garante que não haja uma explosão populacional de outras espécies que estejam sendo favorecidas pelo ambiente alterado pelo homem.
De acordo com a analista ambiental e coordenadora do projeto, Márcia Gonçalves Rodrigues, na estrutura de incentivos que deverá ser criada para que a recuperação e a adequação ambiental das propriedades rurais ocorram, o projeto prevê a implantação do pagamento por serviços ambientais (PSA) a produtores rurais que se comprometam a implantar uma agricultura mais sustentável (agroecologia), a recuperar e proteger a fauna e as florestas nas nascentes e margens dos rios, beneficiando tanto a sua propriedade rural quanto as cidades e indústrias da região com o aumento da infiltração/produção de água e a melhoria da qualidade das águas captadas para o abastecimento urbano.
A produção de água de qualidade, por sua vez, resultará do próprio aumento da área florestada, bem como, do manejo adequado do solo com um uso agrícola mais sustentável. Segundo Márcia, a ideia é que, em no máximo dez anos, boa parte das florestas estejam reconectadas.
A volta
Mesmo ainda engatinhando, o projeto já vem dando frutos. Na segunda-feira (15), a reportagem do Correio pôde comprovar isso no Zoológico de Paulínia, que abriga três filhotes de onças-pardas que foram resgatados recentemente de situações de risco. A ideia agora é treiná-los para que eles possam voltar a viver na natureza.
O mascote do projeto, Abayomi — palavra guarani que significa “feliz encontro” — foi encontrado cerca de 20 dias depois que sua mãe morreu de mal súbito após se sentir coagida pelo homem enquanto atacava um galinheiro no distrito de Sousas.
Os outros dois filhotes — Raquel e Pitã, que significa “pé duro”, também em guarani — foram resgatados depois que a mãe deles morreu atingida por uma máquina agrícola dentro de um canavial. Pitã também foi atingido e teve várias fraturas na pata, mas já está totalmente recuperado.
“Os três devem estar preparados para voltar a viver na floresta no primeiro semestre de 2014”, disse a coordenadora. Outras quatro onças foram resgatadas e já foram devolvidas à natureza.
“Eles estão muito bem, aprendendo a sobreviver sozinhos. Aqui, eles são tratados, treinados e ficam isolados, com o mínimo possível de contato com o homem para que não caiam em armadilhas quando voltarem para a natureza”, disse o médico-veterinário do zoo de Paulínia, Marcelo de Queiroz Telles.
Multifocal
Cerca de 80 pessoas — entre autoridades da região, representantes de empresa, proprietários rurais e formadores de opinião — estiveram ontem no evento 'A Propriedade Rural e o Corredor das Onças: Como Podemos Ajudar', realizado na Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas.
Entre os presentes, estavam políticos de Campinas, Cosmópolis, Artur Nogueira, Holambra e Limeira, além de organizações não governamentais, associações de proprietários rurais e representantes de empresas parceiras.
O vice-prefeito de Campinas, Henrique Magalhães Teixeira (PSDB), presente no evento, afirmou que o projeto tem todo o apoio do governo municipal. “Estamos de portas abertas para o que for preciso”, disse.
Para o secretário municipal do Verde e do Desenvolvimento Sustentável, Rogério Menezes, o maior desafio é a mobilização da população em torno da conservação das matas ciliares e da recuperação dos locais já degradados.
“Sabemos que é tudo a longo prazo, até porque nossa proposta (de reabilitação para devolver o animal à natureza) é inédita. A ideia do evento foi abrir um diálogo com esse pessoal para que algo comece a ser feito logo”, ressaltou Márcia Gonçalves Rodrigues, coordenadora do projeto.
Produtores serão pagos para conservar
O projeto Corredor das Onças é uma iniciativa do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em parceria com o Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que responde pela organização de um modelo de pagamento por serviços ambientais (PSA) pela conservação da água e da biodiversidade na região de Campinas.
Nesta primeira etapa, o Corredor das Onças teve apoio financeiro do projeto Proteção da Mata Atlântica 2, do governo brasileiro, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, dentro de um programa de cooperação técnica e financeira entre Brasil e Alemanha, no âmbito da Iniciativa Internacional de Proteção ao Clima (IKI). Prevê apoio técnico através da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, e apoio financeiro através do KfW Entwicklungsbank (o Banco Alemão de Desenvolvimento), por intermédio do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).
O projeto está sediado em Campinas, porém, a fauna, assim como as nascentes dos principais cursos d’água da região, não conhecem fronteiras políticas.
Assim, o caminho das onças tem levado a iniciativa muito além dos limites da RMC, que possui área total de 3.647 quilômetros quadrados.
No entanto, os fragmentos florestais da Região Metropolitana de Campinas representam pouco menos que 10% de sua área total: cerca de 34 mil hectares distribuídos entre os seus 19 municípios.
A onça-parda (Puma concolor), também conhecida como suçuarana, é usada como espécie bandeira do corredor ecológico a ser implantado, pois sua presença, comprovada nos primeiros trabalhos de campo, indica um processo de adaptação a uma situação ambiental pouco favorável, marcada pela existência de um mosaico de pequenos fragmentos florestais isolados.
A importância da onça-parda está na sua capacidade de controlar espécies que estão abaixo dela na cadeia alimentar. Com isso, ela garante que não haja uma explosão populacional de outras espécies que estejam sendo favorecidas pelo ambiente alterado pelo homem.
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