O desenvolvimento de associações comunitárias, organizações não-governamentais e micronegócios sociais é fundamental para a sobrevivência de comunidades que zelam pela preservação de locais de grande interesse ambiental e cultural. Quando são forçadas a deixar seus lugares podem dar lugar a empreendimentos que não demonstram tanto respeito pelo meio em que estão. Ou exploram mão de obra de forma ilegal e até criminosa. Além disso, seu empobrecimento pode levar à dilapidação desse mesmo patrimônio natural como último recurso para a própria sobrevivência. Portanto, manter essas comunidades fortes é um dos reais significados do desenvolvimento sustentável.
“Acho que este é um momento de mudança de mentalidade. De busca por alternativas econômicas sustentáveis, de valorização do microempreendedorismo, de ascensão do trabalho colaborativo, da atuação em rede, do financiamento coletivo, do consumo consciente”, afirma Claudia Carmello, diretora de Comunicação e Projetos da Garupa. Ela foi entrevistada por este blog para contar um pouco do projeto:
Entrevista feita por Sakamoto:
-Parte dos empreendedores que vocês apoiam provavelmente atuam em locais pouco conhecidos do grande público e, por isso, relativamente preservados. Nesse caso, não seria mais lógico manter esses lugares longe da atenção da população para se manterem como são?
Na verdade, não. E é justamente o contrário. O turismo sustentável é aquele que não só não detona o destino, como causa um impacto positivo nele. É quando a presença do viajante no lugar serve de estímulo para a preservação dos seus patrimônios naturais e culturais. Primeiro, porque o turista só vai continuar visitando se o destino estiver preservado. E, além disso, porque o seu dinheiro fica na mão da comunidade local.
Um exemplo: em um dos destinos apoiados pela Garupa na Amazônia, a população não via outra opção de renda além de cortar madeira ilegal pra vender. Quando o lugar virou uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável, cinco anos atrás, começaram a trabalhar com turismo de base comunitária: abriram uma pousada e um restaurante comunitário. Daí perceberam que mesmo esse turismo de baixo impacto pode trazer mais dinheiro, e por muito mais tempo, do que o corte de madeira ilegal. Ou seja, viram que a floresta de pé vale mais do que derrubada.
-Mais do que apoiar rostinhos bonitos e histórias comoventes, incentivar o turismo sustentável é um bom negócio? Ele é capaz de competir em atenção do público com o turismo convencional?
Um bom negócio é, antes de tudo, um negócio perene. Então, a lógica de montar uma operação turística predatória na praia da moda, ganhar muito dinheiro ali, mas detonando o lugar, para depois ter que procurar a próxima praia da moda, é uma lógica burra. Tem um limite. Mesmo num Brasil com mais de 7 mil quilômetros de litoral.
E o turismo sustentável tem esse propósito: manter os destinos preservados, com a população local usufruindo da renda trazida pelo turista. Ele é um bom negócio para o empreendedor local de um destino interessante e pode ser um bom negócio também para uma empresa grande – que tenderia, talvez, a investir em operações mais exclusivas e caras.
Se ele pode competir em atenção do público com o turismo convencional? Aí a resposta é mais difícil. Na Garupa vamos testar essa premissa, de que viajar com mais conexão com a natureza, as pessoas e o que há de autêntico em cada lugar é muito mais legal. Agora, para o público poder se interessar, precisa ter opções à sua disposição. De passeios, de pousadas, de atividades sustentáveis. E esse é o foco da Garupa: garantir que essas operações sustentáveis se aprimorem, se divulguem melhor a público, saiam do papel.
-Por que uma boa ideia como a Garupa surge apenas agora?
Acho que este é um momento de mudança de mentalidade. De busca por alternativas econômicas sustentáveis, de valorização do microempreendedorismo, de ascensão do trabalho colaborativo, da atuação em rede, do financiamento coletivo, do consumo consciente. A Garupa se liga a todas estas ideias. É também um momento de saturação do interesse pelo consumo de massa, pelo pasteurizado, pelo fake. Um público que busca experiências mais significativas, mais autênticas, e um modo mais justo e satisfatório de consumir, nas férias ou não, é o público óbvio da Garupa. Mas a gente está aqui para mostrar a beleza do turismo sustentável para todo mundo.
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