12 de julho de 2011

Ecovila italiana Damanhur


Nos alpes piemonteses, a comunidade de mil moradores aposta em negócios sustentáveis para criar uma economia próspera, vive em casas multifamiliares, cultiva alimentos orgânicos e surpreende os visitantes com os enormes templos subterrâneos construídos para celebrar civilizações ancestrais.




Damanhur ou “Cidade da Luz” é o nome de uma antiga cidade egípcia. Mas nos Alpes piemonteses, no Vale Valchiusella, é sinônimo de comunidade sustentável bem-sucedida – reconhecimento, aliás, que atravessou fronteiras. Em 2005, durante o Fórum Global de Assentamentos Humanos das Nações Unidas, na China, a Damanhur recebeu o prêmio de modelo de sociedade sustentável, por sua colaboração com autoridades locais e seu comprometimento com o desenvolvimento de territórios vizinhos. 


Em seus 520 hectares, dos quais 300 são áreas naturais preservadas, criatividade e inovação são como palavras de ordem da ecovila, que acumula feitos importantes em sua trajetória de 30 anos. “Damanhur possui, por exemplo, uma moeda própria, paralela ao Euro, chamada Credito, e desenvolve mais de 80 atividades econômicas e serviços, que rendem um faturamento anual de US$ 25 milhões”, conta Victor Leon Ades, engenheiro e designer de sustentabilidade, que relatou sua experiência na ecovila italiana em palestra do projeto “Diálogo com as Ecovilas”, promovido pela UMAPAZ - Universidade Aberta do Meio Ambiente e da Cultura de Paz, em São Paulo, em março de 2009. Além disso, a ecovila mantém casas multifamiliares (cohousing) para abrigar até 25 pessoas, produz uma grande variedade de alimentos orgânicos, realiza pesquisas de tecnologias verdes e construiu ao longo dos anos, em regime de mutirão, enormes Templos da Humanidade, salões subterrâneos que atraem visitantes do mundo inteiro. A seguir, selecionamos algumas das muitas curiosidades de Damanhur, que se inspira na experiência de civilizações antigas e nas mais novas descobertas tecnológicas para moldar sua própria história e inspirar outras comunidades. E se quiser conhecer outras comunidades sustentáveis, visite o site da Rede Mundial de Ecovilas. 
Cohousing: uma casa, várias famílias 

Em Damanhur, várias famílias dividem a mesma casa, que pode abrigar entre 20 e 25 pessoas. Cada casa é considerada uma comunidade e a ecovila, uma federação de comunidades – cerca de 45 no total.

Todas as famílias têm ambientes privativos, especialmente quartos e banheiros. Já as salas de estar, biblioteca, cozinha, refeitório e lavanderia são de uso comum. Assim, os moradores compartilham vários equipamentos – como lavadoras e secadoras de roupas, por exemplo – e evitam que cada família tenha que comprar aparelhos que não serão utilizados todos os dias. 

Na cohousing, as diferentes famílias tendem a formar uma grande família, em que o trabalho doméstico é dividido entre os moradores. Eles se revezam na preparação das refeições, compartilham a mesa de jantar, a sala de tv e, em alguns casos, organizam-se em esquema de escala para a utilização dos equipamentos da lavanderia e até de carros particulares. 

As crianças recebem o cuidado de todos. Quando mães e pais estão fora, outros adultos assumem a responsabilidade pelos pequenos. 

Autossuficiência alimentar

Muitos moradores de Damanhur trabalham na produção de alimentos orgânicos. A ecovila possui estufas para o crescimento de hortaliças e legumes, que compõem a alimentação das famílias. A criação de animais garante o leite para a produção de queijos orgânicos. Já as uvas, cultivadas em solo especial, são vendidas in natura e também transformadas em vinho orgânico. O cultivo de tomates e a produção de azeite garantem o molho caseiro que não pode faltar na boa massa dos italianos – embora Damanhur seja o lar de pessoas de mais de 20 nacionalidades. Além de suprir os moradores, os produtos também são vendidos para visitantes no mercado interno, bares, restaurantes e lojas de Damanhur. 

Economia do futuro

Uma das grandes riquezas de Damanhur é a diversidade de habilidades e talentos de seus moradores, o que explica a enorme variedade de atividades econômicas e serviços desenvolvidos pela ecovila. Ao todo, são mais de 80 tipos de negócios sustentáveis, que abrangem diferentes áreas: ateliês de arte (mosaico, cerâmica, jóias, pintura, escultura, restauração de obras de arte, confecção de instrumentos musicais etc.), terapias alternativas (massagens, spa holístico, acupuntura, reiki, entre outros), lojas, restaurantes, cybercafé, organização de eventos, construção civil, cooperativas de artesanato e alimentos, escolas e muito mais. 

Com tanta produção interna – que soma um faturamento anual de US$ 25 milhões - Damanhur conseguiu criar uma moeda própria, o Credito, que circula internamente e ajuda a valorizar ainda mais os bens e serviços gerados pelos moradores. Os visitantes também podem usar o Credito, adquirindo a moeda em máquinas de câmbio disponíveis localmente. 

Arquitetura comunitária e tecnologias verdes

As ecovilas costumam ser ricas em espaços comunitários. Em Damanhur, não poderia ser diferente. Os moradores têm à disposição anfiteatros, salões de conferência, escolas, jardins meditativos, templos para práticas espirituais e muitas áreas verdes. 

Na paisagem, também é comum encontrar painéis de energia fotovoltaica, desenvolvidos em laboratórios internos de pesquisa, protótipos de casas sustentáveis e até carros elétricos. Um passeio pelas ruas de Damanhur pode ainda levar o visitante, por exemplo, a encontrar grupos de moradores que atuam como voluntários em diferentes projetos humanitários, que vão da brigada de incêndio local à Cruz Vermelha ou Greenpeace. 

Templos da Humanidade

Damanhur foi fundada pelo italiano Oberto Airaudi, considerado uma espécie de líder espiritual para muitos dos moradores da ecovila. Airaudi é artista, escritor e grande admirador das civilizações antigas. Por isso, desde o início da história da comunidade, ele organiza os trabalhos de construção do que ele chamou de Templos da Humanidade. Os templos formam um conjunto de salões subterrâneos, incrustados na montanha, que celebram os mais diversos povos, culturas e conhecimentos que já passaram pelo planeta. A miscelânea de imagens e símbolos foi erguida em segredo do governo italiano durante muitos anos que, depois da descoberta, teria determinado a cobrança de ingressos para os visitantes, como imposto a ser pago para compensar a atividade mantida à revelia do Estado.



Enviado por Beto Samu http://betoartesao.blogspot.com/

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