10 de março de 2011

Visão futurista salvou a Serra do Japi


FABIANO MAIA
A Serra do Japi é fiscalizada com modernos jipes Agrale Marruá, ideais para o patrulhamento florestal
A Serra do Japi é fiscalizada com modernos jipes Agrale Marruá, ideais para o patrulhamento florestal
O ano era 1982 e a visão de preservação ambiental da sociedade era menos abrangente do que a atual. Mas um geógrafo renomado, já de olho nos avanços das cidades e na especulação imobiliária, cuidou para que as futuras gerações pudessem ver a Serra do Japi como ela é atualmente. "Eu conhecia relativamente bem a Região e sabia da importância da Serra do Japi", recorda Aziz Nacib Ab´Saber, geógrafo e professor universitário, considerado referência em assuntos relacionados ao meio ambiente e impactos ambientais decorrentes das atividades humanas. "Naquele ano eu assumi a presidência do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) e tomei a liberdade de fazer um plano diferente para o tombamento da serra." Recentemente, o professor Aziz esteve em Jundiaí e se disse frontalmente contrário à idéia de criação do Parque Estadual da Serra do Japi, que julga um grande erro.

Aos 84 anos, o especialista acredita que caso o tombamento não tivesse sido aprovado, em março de 1983, a Serra do Japi teria um destino diferente. "É provável que aconteceria o mesmo que em muitos locais do mundo: a população de baixa renda, sem ter condições de comprar um imóvel ou terreno, invadiria a serra, assim como ocorreu nos morros do Rio de Janeiro", compara.

Para que o projeto fosse aprovado e passasse pelos olhos desconfiados dos especuladores imobiliários da época, o geógrafo utilizou argumentos. "Mostrei, através de estudos, que a natureza do Japi é uma das pequenas serras constituída pela rocha quartzito, a mais dura da face da Terra. E o que causa espanto é que neste solo cresceu uma floresta. E caso esse solo fosse destruído, ele nunca mais seria reconstituído."

Mais do que expor sua rara beleza, Aziz mostrou que no alto da serra existiam áreas campestres, um documento da vegetação do passado, remetente à era glacial. "Existir florestas em rocha é um milagre da natureza", define. Apesar disso, ele encontrou resistência por parte de alguns membros da população. "Participei de uma reunião em Jundiaí com pessoas que iam fazer negócios na área do Japi. Muita gente não tinha noção da importância do tombamento da serra", relembra. "E dei uma aula sobre isso. Para minha surpresa, ao terminar, ao invés de me agredirem, os participantes me aplaudiram. Eles viram que eu estava pensando na cidade, na sua conservação."



Definitivo - Aziz só respirou aliviado quando o então secretário de Cultura do Estado, João Carlos Martins, aprovou por definitivo o tombamento. "Quando eu fiz o projeto era um tombamento provisório, que servia apenas para que ninguém mexesse na serra. Mas antes de chegar ao fim minha presidência no Condephaat, o secretário aprovou o projeto. Com certeza o tombamento da Serra do Japi foi um dos grandes acontecimentos no quesito ´preservação da natureza´ no Estado de São Paulo." Mas ele faz questão de não levar a fama de bom sozinho. "Foi um trabalho conjunto de jornalistas, radialistas e da televisão, que me ajudaram no processo de tombamento."




Anos depois - Hoje, o professor emérito da Universidade de São Paulo (USP) garante que ainda faz uma fiscalização na riqueza natural que ele ajudou a preservar. "Toda vez que sei de alguma intervenção errada de pessoas eu entrego aos órgãos públicos", aponta. "Tenho ido a Jundiaí e percebi que sítios e chácaras chegaram ao pé da serra, mas não subiram. Isso mostra que o patrimônio está sendo fiscalizado." Aziz analisa que, caso o tombamento não fosse aprovado, dificilmente a cidade seria como é vista hoje. O belo cenário verde, avistado em vários pontos da cidade, provavelmente não existiria. "Arrisco a dizer que o avanço da sociedade poderia até provocar a mesma catástrofe que aconteceu na região serrana do Rio no início deste ano." Mesmo assim, ele faz um alerta. "A preservação precisa continuar. Caso contrário, o que será da Serra do Japi daqui a 50 anos, se não fizermos o mínimo para preservá-la?". 


TERESA ORRÚ

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